JUSTIFICATIVA
A imposição de um padrão social tido como correto e único traz consequências diversas para as pessoas que não o seguem. É o que ocorre com a norma cis-heterossexual, por muito tempo imposta socialmente, que reflete no modo de vida atual. Durante os últimos séculos, construiu-se a noção de que a única relação amorosa e sexual aceita, digna de respeito e inclusão, é a que contém um homem e uma mulher cisgêneros. Esse fato criou uma relação de poder cis-heteronormativo, na qual a única sexualidade validada é a cis-hétero, deixando as demais possibilidades anuladas.
Muitas vezes, os LGBTQIA+ passam por um processo complicado de reconhecimento de suas sexualidades e identidades de gênero, autoaceitação e “aprovação” das pessoas que os cercam. Desde a infância, as pessoas são expostas à estímulos que induzem padrões que já estão estabelecidos socialmente, falamos aqui do padrão cis-heteronormativo. A criança é moldada pelos seus pais com condutas que se enquadram no comportamento cis-hétero: ensinada a se vestir, brincar, dançar, conforme modelos pré-estabelecidos para seu gênero biológico. Quando ocorre da pessoa sentir atração pelo mesmo sexo e ter vontades de agir e se vestir de uma forma diferente da qual foi “ensinada”, se tem um conflito existencial, que a faz ponderar sobre certo e errado, entrando em uma crise e sentindo-se não pertencente à sociedade padrão.
Esses fatos trazem consequências diversas para a pessoa desviante, sem apoio e sem modelos de representação diferentes dos tradicionais, se vê perdida. Além disso, o processo de se assumir conta com um outro obstáculo: o medo da rejeição por parte dos familiares e amigos, por isso, muitas pessoas preferem esconder suas sexualidades para evitar esses conflitos e acabam vivendo uma vida “dentro do armário”.
Atualmente, houve muitos avanços e ganhos para a comunidade LGBTQIA+ se compararmos a algumas décadas atrás. Porém, mesmo havendo mais respeito e tolerância, a comunidade ainda sofre muito com a violência e a exclusão. O Brasil está no topo da lista de países que mais matam LGBTQIA+ no mundo, segundo relatórios anuais do Grupo Gay da Bahia. Essa realidade está longe de mudar, é necessário muita luta para que se conquiste a liberdade de sair sem ter medo de sofrer com constrangimento, olhares julgadores, agressão verbal, agressão física, e, no pior dos casos, ser morto por ser quem você é.
Dentro desse contexto, temos a noção do poder do audiovisual em trazer essas discussões sociais à tona e servir de apoio às minorias por vezes hostilizadas e excluídas pela sociedade. Entendemos que quanto mais produtos audiovisuais voltados para as questões sociais, mais as pessoas terão empatia e respeito pelas minorias representadas, além de favorecer a própria representatividade e identificação das pessoas pertencentes aos grupos em questão. Os LGBTQIA+ aspiram por encontrar pessoas, personagens e artistas que os representem nos meios de comunicação, contudo, a sociedade cis-heteronormativa impede que as pessoas pertencentes a esse grupo sejam mostradas com frequência, e muitas vezes quando isso ocorre é feito de uma forma esteriotipada, sem enaltecer as individualidades de cada pessoa.
O documentário “O Armário Não É o Nosso Lugar” vem com a proposta de apresentar de forma mais autêntica a comunidade LGBTQIA+, valorizando as características e a vivência de cada indivíduo. Através de entrevistas, as pessoas fora dos padrões cis-héteros relatam os conflitos e dificuldades em se assumirem e serem quem são. Também são apresentados artistas LGBTQIA+, a fim de fortalecer a produção artística da comunidade, sendo que muitas vezes são ignorados ou não levam tanta credibilidade quanto os artistas cis-héteros.
É necessário criar uma sociedade inclusiva, justa e consciente sobre os assuntos envolvendo as sexualidades. Precisa-se ter representatividade nos meios de comunicação e mais debates acerca do tema LGBTQIA+, criando uma sociedade cujo ambiente familiar, escolar e profissional sejam locais inclusivos e não discriminatórios, evitando conflitos que impeçam as pessoas de se assumirem tais como elas são, e quando o fizerem, não sofram com atitudes negativas.